Por favor, nunca tentem me consolar, após um fim de relacionamento, com a frase de que eles são só uma instância da vida. Não.
É tão óbvio o impacto de tudo em tudo, principalmente quando o que há é esse fim de ciclo num microcosmos tão acessível - a quem souber olhar - que é o 'eu'. Há que se estar muy distraído para não ver a perda; há que querer se enganar.
Como se amar uma pessoa específica não significasse transcender esse entre-dois a todo o tempo, e levar isso aos demais. Como se não implicasse em um ímpeto de fazer cada coisa em sua devida excelência... como se isso nos tornasse mais perfeitos e, portanto, mais merecedores de amor. Como se doar-se fosse um ato unilateral: esquecem-se que em êxtase pouco há de dicotomias sujeito-objeto?
Como se não fosse notável a leveza, como se essa não fosse contagiosa - porque é, qu'eu juro.
E se me disserem: Relacionamentos terminam, mas o sentimento pode continuar por si.
Digo, aristotelicamente: As coisas que são ato superam aquelas que são apenas uma possibilidade. Sempre.
O que mora no mais íntimo de uma pessoa, se nunca vem à tona, perece com ela e contradiz o próprio ideal de certa eternidade, tão próprio ao amor inteiro.
- Do meu menino, resquícios. Sigo com o hábito de pintar as unhas com cuidado, quase religiosamente, toda semana. Ele achava bonito; essa semana foi azul, dos bem escuros. Uso diariamente as mesmas botas de sempre, a boca colorida, variável conforme o humor. Aplico com pincel, sem pressa, me atento a cada curvatura da boca. Eu danço com cada célula do corpo pro caso de ele estar olhando. Vou sacralizar e tratar como ritual tudo que me fizer existir melhor enquanto eu viver, e que se danem vocês. Sempre com cuidado: agora só me restaram as possibilidades antes das coisas em ato, e nelas o menino sempre pode surgir a cada esquina. E se, se, se, se, se aparecer estarei lá, apresentável dentro da minha excelência alcançável, vai que assim ele me amaria ainda mais? Perseguir a perfeição também fica juntinho do infinito em tudo que o amor almeja.
Ele surge em cada esquina, e eu estou bem bonita num abraço imensurável no tempo dos homens:
amar inteiro é ser semi-deus.
sábado, 15 de outubro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
G.
Moço, descubro que quando você sente amor e não pode dar, se você é esperto a tendência a sucumbir e se afogar e relutar em fazer a menor das tarefas cotidianas dá lugar a aprender a ver flores imaginárias nas cinzas das horas mortas de dias iguais.
Sinto que tenho ficado esperta.
Amo abrir minha latita de brincos de flamenco e lembrar da sua cara boba olhando pro meu brinco de gota vermelha, e eu constrangida sem saber se é porque gostou muito ou se achou uma baranguice. Te dei os pretos, pra não esquecer de mim. Será que você já esqueceu de mim?
Amo ensaiar o baile do tientos na companhia, porque foi o primeiro que você me viu dançar, e quando a gente dança invocando uma história bonita inteira por dentro eu vejo que os filósofos complicaram demais o que é ter uma experiência mística, porque é só isso: dançar quando quem amamos está perto, mesmo se for uma proximidade presente apenas num passado que é vivo e é dentro. Bem dentro.
Amo tirar os lençóis da máquina de lavar. Isso mostra que eu já aprendi a lavar os lençóis depois que você foi embora, porque por mais que eu tenha prometido pra mim mesma que queria dormir com seu cheiro pra sempre, depois de uma semana que você já foi isso não é mais tão sensato.
Amo vestir meu vestido xadrez, porque você esteve de xadrez no mesmo dia que eu sem acordo prévio. Amo cada dia três de cada mês, porque é aniversário do dia em que me salvei de achar que intensidade não me cabia mais - e eu ainda ganhei um beijo por causa disso.
Pra cada seu momento de frieza, de distância, do "nunca mais" que eu não ouvi diretamente de você, mas me contaram, uma lembrança bonita. Pra cada lembrança bonita, uma cor nova dentro de mim. E aí, um rodopio, uma gargalhada sem sentido, um "eu não sinto que acabou".
Do arco-íris ao amarelo. E felicidade é amarelo.
Sinto que tenho ficado esperta.
Amo abrir minha latita de brincos de flamenco e lembrar da sua cara boba olhando pro meu brinco de gota vermelha, e eu constrangida sem saber se é porque gostou muito ou se achou uma baranguice. Te dei os pretos, pra não esquecer de mim. Será que você já esqueceu de mim?
Amo ensaiar o baile do tientos na companhia, porque foi o primeiro que você me viu dançar, e quando a gente dança invocando uma história bonita inteira por dentro eu vejo que os filósofos complicaram demais o que é ter uma experiência mística, porque é só isso: dançar quando quem amamos está perto, mesmo se for uma proximidade presente apenas num passado que é vivo e é dentro. Bem dentro.
Amo tirar os lençóis da máquina de lavar. Isso mostra que eu já aprendi a lavar os lençóis depois que você foi embora, porque por mais que eu tenha prometido pra mim mesma que queria dormir com seu cheiro pra sempre, depois de uma semana que você já foi isso não é mais tão sensato.
Amo vestir meu vestido xadrez, porque você esteve de xadrez no mesmo dia que eu sem acordo prévio. Amo cada dia três de cada mês, porque é aniversário do dia em que me salvei de achar que intensidade não me cabia mais - e eu ainda ganhei um beijo por causa disso.
Pra cada seu momento de frieza, de distância, do "nunca mais" que eu não ouvi diretamente de você, mas me contaram, uma lembrança bonita. Pra cada lembrança bonita, uma cor nova dentro de mim. E aí, um rodopio, uma gargalhada sem sentido, um "eu não sinto que acabou".
Do arco-íris ao amarelo. E felicidade é amarelo.
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