domingo, 14 de outubro de 2012

porque eu sinto em quiasmos.

Depois de conhecer Cecília pessoalmente, repito com frequência que não mato meus mitos. Eu os amo mais. Trago para perto: pelo amor ao que conhecemos de fato, observando, nos detalhes. Empeiría. Dizer amar o inteiro é pretensão demais - amar  tudo aquilo que é percebido. Será que eu amo tanto dormir com você porque assim o espaço pra contemplar não tem lacunas? Porque dormindo você não é o menino que me magoou até o último suspiro de paciência e agora me dói dos pés à cabeça; mas sim só mais uma pessoa que acorda cedo, trabalha e se cansa e merece as horas  de sono e toda compaixão do mundo? [aqui em sentido primitivo, como na Insustentável Leveza: compaixão é sentir com - e agradeço ter dividido sono com você, por todos aqueles dias, e no que há de mais autêntico e puro dos meus sonhos te juro que durmo com você também por todos esses dias depois daqueles]. e isso é porque sempre achei que nos entendemos melhor na esfera não discursiva da vida: para o que não se faz palavra ou na atemporalidade do gesto seu espaço para me contemplar tampouco tem lacunas. E eu percebo, agradecendo, mesmo que em dor.
[diz a música na propaganda da tv "so kiss me, and smile for me..."]

Abraço em Cecília, me dividir entre Ásia e Europa no Bósforo, sonho de uma vida, formar em francês na França, sentar na cadeira da Escola Normal Superior, dançar com ex bailarina da Pina Bausch, ver Anne Theresa Keersmaeker prassar do meu lado como rotina... e eu não sei repetir nada sobre isso, porque em mim só reverbera seu nome, sem lacunas. sagrado como os mitos que cultivo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

merci, Mr. James Joyce.

“...Yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used or shall I wear a red yes and how he kissed me under the Moorish wall and I thought well as well him as another and then I asked him with my eyes to ask again yes and then he asked me would I yes to say yes my mountain flower and first I put my arms around him yes and drew him down to me so he could feel my breasts all perfume yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will yes.”
― once again.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

à attendre, à espérer, sur la ruine de tout le reste, à porter sans fléchir, sur leur gouttelette presque impalpable, l'édifice immense du souvenir ... ou: sobre amor.

Eu nunca só descrevo os fatos.
Sempre me perco em detalhes idiotas e a partir deles as coisas se fazem. E não digo isto querendo me colocar em lugar especial perante as demais pessoas, como em superioridade, me fingindo despretensiosa: hoje de verdade demorei 1h no banho por ficar olhando o casal de pombos no fio do poste da janela e minha mão enrugou tanto. Hoje eu quebrei um prato em mil pedacinhos rodopiando um refrão em hora errada, e meu gato quase pisou em cima dos cacos. Escrevi meu último artigo sobre Plotino começando da epígrafe e ler o texto certo foi só o final do processo.
Mas os professores gostaram.
Eu tendo a ser bem aceita assim, as pessoas costumam sorrir para mim, mas tenho me sentido sem lugar nos últimos tempos. Tentei dizer ao Otávio agora pouco, mas ele mora em São Paulo e creio estar off line. Então sem me perder em detalhes dessa vez, digo os sentimentos assim crus.
Conto que quando eu carrego meu gato mais novo, este branco, eu sinto toda aquela pureza do tipo de amor que a Cecilia tentou me ensinar quando me aconselhou fazer trabalho voluntário. É que eu achei ele muito pequeno, na rua, embaixo de um carro estacionado. Agora me faltam palavras para descrever o que ela tentou me ensinar, mas é algo em torno daquele sentimento de paz do amor sem desejo, virtuoso, por si mesmo, porque não tinha outra possibilidade no mundo além de não levá-lo para casa. O que não foi movido por sentimento de compaixão, pois coincidia com ele e com todas as outras coisas belas ao mesmo tempo. Que se põe a serviço de outro naturalmente e mantém essa identificação amante-amado eternamente até que se torne amante-amante, amado-amado ou qualquer coisa una que nasça de uma dualidade que só existia antes pois os dois corpos não se conheciam antes.
Conto que quando eu vejo a foto do moço paulista, não do Gustavo, mas desse outro moço, eu sorrio com o corpo inteiro, e que quando ele me fala das  moças de lá tenho vontade de mandar para o inferno. Fala de mim no lugar? Vamos trocar novamente elogios discretos que me deixem pensar livremente na possibilidade de um dia você achar de mim o que acha delas...acha coisas boas de mim? me acha do jeito que for? Pára de falar como se essa viagem para a França fosse salvar minha vida, porque a dança já o fez há anos, mas se convença de que pode salvar minha vida um pouquinho mais com carinho e vem aqui um minuto? Ok, corrijo: uma noite inteira?
Que quando penso na ex com a atual eu tenho raiva. Que eu odeio essa geração de merda que só fica com as pessoas à medida em que o outro lhe é útil, com laços que parecem de verdade no momento, te convencem no presente, mas se desfazem num estalar de dedos. Que são por pessoas assim que eu acho o mundo um lugar horrível e não tenho mais fé alguma nas pessoas; e eu odeio admitir que a última pessoa com quem me envolvi faz parte da mesma classe. Eu odeio. Odeio mais ainda que apesar da raiva, vejo foto dela criança e olho os bracinhos gordinhos e penso em como minha capacidade para não esquecer a porra dos detalhes ("amar é a sede após ter bebido..." diria Guimarães Rosa a mim) deixa de ser uma característica interessante para me esmagar as células todas  e botar no fundo do poço. Porque eu não supero e nem me recupero de amor algum, eu só acumulo e tento enxergar o tempo de forma linear para incorporar a noção de passado. E, sinceramente, para mim essa vadia com quem você está vai tarde.
Que o Gustavo ligou e eu senti raiva pois estou dando os primeiros passos integralmente sem lembrá-lo. E então eu lembro. Também com o corpo inteiro, em atividade plena como me ensinou Plotino no artigo que eu escrevi a partir da epígrafe. Lembrar, de tremer a espinha, umedecer entre as pernas, apertar o coração e chorar por uma vida.