Depois de conhecer Cecília pessoalmente, repito com frequência que não mato meus mitos. Eu os amo mais. Trago para perto: pelo amor ao que conhecemos de fato, observando, nos detalhes. Empeiría. Dizer amar o inteiro é pretensão demais - amar tudo aquilo que é percebido. Será que eu amo tanto dormir com você porque assim o espaço pra contemplar não tem lacunas? Porque dormindo você não é o menino que me magoou até o último suspiro de paciência e agora me dói dos pés à cabeça; mas sim só mais uma pessoa que acorda cedo, trabalha e se cansa e merece as horas de sono e toda compaixão do mundo? [aqui em sentido primitivo, como na Insustentável Leveza: compaixão é sentir com - e agradeço ter dividido sono com você, por todos aqueles dias, e no que há de mais autêntico e puro dos meus sonhos te juro que durmo com você também por todos esses dias depois daqueles]. e isso é porque sempre achei que nos entendemos melhor na esfera não discursiva da vida: para o que não se faz palavra ou na atemporalidade do gesto seu espaço para me contemplar tampouco tem lacunas. E eu percebo, agradecendo, mesmo que em dor.
[diz a música na propaganda da tv "so kiss me, and smile for me..."]
Abraço em Cecília, me dividir entre Ásia e Europa no Bósforo, sonho de uma vida, formar em francês na França, sentar na cadeira da Escola Normal Superior, dançar com ex bailarina da Pina Bausch, ver Anne Theresa Keersmaeker prassar do meu lado como rotina... e eu não sei repetir nada sobre isso, porque em mim só reverbera seu nome, sem lacunas. sagrado como os mitos que cultivo.
Sempre achei que você transformava tua vida toda em beleza só pelo fato de ser toda PhiloSophia. Como se mesmo nas coisas mais duras houvesse uma pontinha de luz porque foi você quem as transcreveu, foi você que as transformou em verbo, amor e sutileza - um dia, ainda aprendo a ser assim.
ResponderExcluirMeus mitos, cada dia mais vivos aqui dentro porque eu sou toda feita de gente e figuras que fizeram do meu mundo, um lugar mais bonito - e literário - pra (sobre)viver. Você, meu mito mineiro, guardado em cada delicadeza que encontro por aí, uns dentes de leão pra nunca me deixar esquecer que você bem existe...
De lacuna em lacuna, mesmo àquelas a que não se verbaliza, vamos reconstruindo a existência diária de tampar buracos na cama, nas palavras, no país - porque lacuna maior não existe do que a de Curitiba pra Minas Gerais. E isso, a gente vai desfazendo aos poucos com letra, aprendizado, tentativa e - por que não? - um pouco de dor porque enfim, amor só é bom se doer.
Da metadinha do sul, pr'aquela que me ensinou o doce coração que têm as bailarinas.